Agrupamento de Escolas da Ericeira

DIA DO PATRONO

“As nossas profissões, as nossas escolhas” 

No dia 11 de fevereiro, o Patrono foi celebrado com um programa do âmbito da orientação  vocacional dirigido ao 9º ano e animado pela interpretação musical do Hino da escola por alunos  do 7º ano. Além disso, decorreu um concurso em quiz sobre António Bento Franco, aberto a  todos os alunos. 

Atualidade do legado de António Bento Franco 

Nascido em 11 de fevereiro de 1890, na Ericeira, foi médico militar, exercendo até além-fronteiras,  na I Guerra Mundial. No Centro de Saúde ficou conhecido como boa pessoa, ajudando a classe piscatória.  Foi poeta e pintor autodidata, investigador das Águas Termais de Santa Marta e impulsionador da cultura  ericeirense. Faleceu em dezembro de 1960 e todos os anos a escola o recorda. 

Este ano, o Repórter Ouriço associou-se à iniciativa do Serviço de Psicologia e Orientação, no  âmbito do tema “As nossas profissões, as nossas escolhas”. Depois de, no passado outubro, se receberem ex-alunos, professores e outros funcionários na festa que se designou «Sunset 40», chegava a hora de  proporcionar a partilha de experiências de formação e profissão com os que se preparam para concluir o  ensino básico. As palestras dos convidados, com diferentes percursos formativos e profissionais, 

decorreram em duas sessões, às 13:45 e às 15:30, havendo um breve convívio pelo meio, com um «coffee break» preparado pela turma de CEF.  

Após as boas-vindas dadas pela Vice-Presidente, Helena Quaresma, a professora Conceição Jorge recordou que “a escola começou por se chamar Preparatória, entretanto Básica de 2º e 3ºciclos e há seis  anos Básica e Secundária. Tem-se tornado numa comunidade cada vez mais inclusiva, onde se aprende a  viver com a diferença, seja intelectual, social, cultural ou linguística, recebendo muitos jovens dos vários  continentes. É uma escola internacional que participa no programa Erasmus+ desde 2018.” 

A psicóloga Catarina Amador moderou as palestras dos oito ex-alunos que puderam comparecer,  bem como as intervenções dos alunos do 9º ano. Assim, os convidados apresentaram o seu percurso  escolar e profissional, dando, também, conselhos aos mais novos para seguirem as suas aptidões e não as  dos amigos, na hora de decidirem por um curso secundário de Científico-Humanísticos ou um profissional,  dando ambos acesso ao superior ou diretamente ao mundo do trabalho. 

UM MOMENTO MARCANTE? 

Andreia Duarte, professora do 1º ciclo de formação, considerou tratar-se de “uma pergunta difícil  e uma resposta difícil dada a minha polivalência, já fiz tantas coisas! Posso dizer que, a nível de Presidente  de Junta, a experiência que mais me marcou foi na primeira candidatura, em que decidi sujeitar-me ao 

escrutínio das pessoas, (…) e isso é uma posição muito frágil. (…) Depois foi muito interessante saber que a maioria das pessoas votou em mim, as pessoas acreditaram em mim e isso dá um empoderamento. (…) O  primeiro ano foi de grande magia e conto de fadas, de acreditar que iria conseguir fazer tudo o que tinha na  minha cabeça e depois, o segundo mandato, foi cair com os pés assentes na terra (…) e percebi que não iria  ser o que eu esperava. Não há nenhum curso para ser Presidente de Junta, ninguém aprende a sê-lo,  podemos tirar licenciatura de Ciências Políticas, mas uma coisa é ser político partidário e outra é ser político  autarca, é ser a pessoa que cuida da «polis». Todos nós somos políticos, uns cuidam mais, outros cuidam  menos, uns têm responsabilidades, outros não.” 

A professora acrescentou que, “na parte profissional, que é a escola – a política é uma missão  temporária, que está marcada no tempo -, a fase mais marcante da minha vida enquanto professora foi  logo o meu primeiro ano de serviço. (…) Foi muito desafiante (…), mas foi espetacular, era a primeira turma  da escola e no final era a melhor. Portanto, foi um marco importante para percebermos que todos os  alunos são espetaculares, nós temos é que encontrar esse lado em cada um.” 

Henrique Pyrrait, surfista profissional e treinador da modalidade na Praia de Ribeira d`Ilhas,  contou: “ Foi aos 18, 19 anos, quando eu estava a começar a competir fora do país e houve um campeonato  nas Caraíbas, do outro lado do mundo. Cheguei lá, a minha expetativa estava alta. Na ronda um estava a  correr-me bem, eu estava com um bom «feeling» e cheguei à ronda dois e aquilo foi péssimo correu-me  muito mal, custou-me mal a digerir porque eu nunca tive grandes patrocínios para me pagar as viagens,  então trabalhava para conseguir viajar e dei por mim a pensar «Estive meses a trabalhar para pagar uma  viagem para aqui e correu-me mal!». Fiquei meio frustrado. No dia seguinte, continuei a treinar, não estava  parado, mas comecei a pensar, olhei à minha volta e, num abrir e piscar de olhos, estava nas Caraíbas.  «Como é que estou aqui a queixar-me, estou no outro lado do mundo, a viajar, uma coisa em que eu  sonhava há quatro anos e estava longe de acreditar que iria fazer.» Desde esse dia, comecei a olhar para a  minha profissão, para aquilo que eu escolhi para a minha vida, de uma maneira diferente e sinto-me muito  orgulhoso e honrado do caminho que escolhi seguir.” 

A engenheira alimentar Julieta Diogo partilhou o que foi um choque cultural: “Até ao momento já  tinha tido uma experiência em Portugal, nas empresas, era tudo pessoal mais ou menos da minha idade,  então era fácil eu criar ligações com as pessoas, sentia que era acolhedor. Na primeira semana de trabalho  lá fora, sem saber falar francês, eu estava a tentar comunicar, o posto de trabalho também era novo e fui  colocada nessa zona da fábrica, em que eu tinha que fazer essa melhoria contínua de processos. Lá estava  eu, uma miúda, ao pé daqueles homens todos de cinquenta e tal anos, que trabalhavam lá há muito tempo,  habituados a fazer aquelas coisas daquela maneira, e, do nada, lá venho eu, acabadinha de sair da escola e  pronta a dar ordens a estas pessoas. Foi um choque! Na primeira semana, senti-me, não vou dizer,  maltratada, mas não estava à espera que as pessoas fossem tão frias e pouco recetivas. E aí ponderei  bastante: «Ok, o que estou aqui a fazer? Eu estava tão bem em Portugal! Será que eu estou pronta? (…) A  verdade é que com tempo e esforço tudo se encaminha. As pessoas veem que estamos lá a trabalhar no 

mesmo sentido. Todos queremos transformar a fábrica num melhor sítio para trabalhar.” E aconselhou os  mais novos a que não desistissem. 

César Moreira é professor de Português e Inglês, tem lecionado no público e no privado e também é músico desde muito novo, toca lombardino na Filarmónica Cultural da Ericeira. Atualmente, abraçou um  projeto do Clube Desportivo de Mafra, onde ensina Inglês e Português Língua Não Materna. Portanto, os  desafios têm sido muitos, mas o último veio da sua necessidade de mudança e da oportunidade que  aproveitou, terem acreditado que correspondia ao perfil desejado, e que lhe dá uma rotina menos  burocrática e mais flexível. 

DESAFIOS À ENTRADA DO ENSINO SUPERIOR? 

Da sua experiência de estudante universitária de Psicologia, Sofia Rodrigues deu um conselho: “quando chumbamos na primeira fase de exames, temos sempre a segunda fase para passar ou melhorar;  era o único exame que me faltava e foi o maior stresse da minha vida, mas, a partir daí, comecei a pensar  no que ia fazer se não conseguisse passar nesse exame e pensei que nem sequer era assim tão grave, eu  poderia repetir para o ano ou outro. Descobri há pouco tempo que há época especial se vocês não  passarem nas duas fases, é no final da licenciatura.” 

Para André Branco, estudante de Biologia na Universidade Lusófona, “o Secundário acaba por ser  uma preparação para aquilo que vamos ter na Faculdade, ou seja, se escolhermos, à partida, a nossa área  no Ensino Secundário. De qualquer das maneiras, a escolha, agora, torna-se um bocadinho mais fácil  porque depois, quando estamos a escolher o curso, é algo muito específico, algo que questionamos muito,  submetemos a candidatura e demora um mês até sabermos, é sempre um bocado difícil todo esse  processo. Durante esse mês, questionamos se fizemos a escolha certa, se era aquela Faculdade que  escolhemos ou não. Quando entramos, os ritmos são completamente diferentes. Mas, acima de tudo, é  importante fazermos aquilo de que gostamos porque se eu estivesse neste curso só por causa dos meus  pais ou porque um professor disse que era melhor ou tem mais saída ou não, provavelmente, já tinha  desistido.” 

DESAFIOS PROFISSIONAIS – “SAIR DA NOSSA ZONA DE CONFORTO” 

À questão de um aluno sobre as condições de ficar a trabalhar em Portugal, fosse por  “remuneração ou oportunidades”, a engenheira alimentar Julieta Diogo, a trabalhar no estrangeiro, disse  que lhe “fazia sentido ir lá para fora” por ter sido sempre o seu objetivo. “Se vale a pena, é algo que vocês  têm que perceber. Desde o Erasmus que eu quis fazê-lo. Acredito, sinceramente, que é sair da nossa zona  de conforto, que nós vamos evoluindo, que é ter essa capacidade de decisão, muito valorizada em  qualquer saída profissional. Para mim, eu queria ir lá para fora, obviamente, somos melhor remunerados,  mas também tem que haver sempre o balanço, o custo de vida pode ser bem mais elevado e têm que pôr o  peso na balança se estão dispostos a sair do sítio onde cresceram, da vossa família, dos vossos amigos, não 

é uma decisão fácil. Quando tenho férias, venho a Portugal apreciar o sol, que faz muita falta lá fora,  acreditem, e penso sempre em, eventualmente, voltar. Há outras prioridades na vida, também depende de  profissão para profissão.” 

Por sua vez, Henrique Pyrrait partilhou a sua rotina “desde os quinze anos” de conciliar a vida fora  de Portugal e da Europa: “é bastante bom, não me posso queixar, já fui viajar por vários sítios aonde  sempre ambicionei ir, mas nem sempre é fácil, nós temos cá a nossa família, os nossos amigos, acabamos  por ficar muito tempo longe das pessoas de quem gostamos. À medida que o tempo vai passando,  começamos a valorizar mais o sítio onde vivemos, aquele sentimento de «casa» é grande e, às vezes,  passamos um mês fora, mas faz parte do trabalho. Conciliar tudo isso, campeonatos com escola, também  não foi fácil até porque hoje em dia há facilidades bem maiores do que quando comecei a competir. Estava  ainda nesta escola, era o único a competir e só havia mais um ou dois a fazer surf. Hoje só nesta sala vejo  bem mais do que dois que fazem surf. Essas facilidades, como o home schooling, não havia. Mas, como foi  dito há bocado, quando fazemos o que gostamos, facilita.” 

E DEPOIS DO CURSO, SAIR DO PAÍS? 

André Branco partilhou, com uma certa tristeza, que “especificamente, na Faculdade do Porto,  admitiam que quando se chegasse ao final do curso, era bye bye, iam-se embora.” Por sua vez, Sofia  Rodrigues partilhou que, em Portugal, existem “áreas de investigação”, mas “poucos autores portugueses.  Conheço um professor que estudou lá fora e trouxe uma área inovadora para Portugal, mas acabou por  voltar para fora. Em Psicologia, as oportunidades diferem muito de área para área.” 

Dinis Paulino, estudante de Engenharia de Materiais, afirmou que “é uma área muito específica,  mas tem uma grande amplitude de aplicações. Em Portugal, apesar de eu ter esperanças, ainda me faltam  três anos para me chamar engenheiro, fazer três anos, o mestrado e estar inscrito na Ordem, mas tenho  esperança que se reúnam condições de empregabilidade em Portugal. Neste momento, na área de  pesquisa, investigação, não há muito investimento e também estar fechado num laboratório e tirar um  doutoramento é impensável, acho que não tenho em mim estudar três anos, escrever uma tese de  doutoramento, sempre fui mais de pôr as mãos na massa… Acho que em Portugal não se reúnem muitas  condições, no exterior há mais investimento. Tenho estado a olhar para países como a Dinamarca, em que  até financiam os estudos, principalmente para a malta de STEM – Ciências, Tecnologias, Engenharia e  Matemática. Há outros países com muito investimento em áreas de engenharia que não sejam  propriamente investigação em laboratório, ou seja, mais hands on, como a Alemanha, os Países Baixos, o Luxemburgo.” 

“FACT-CHECKING” 

A moderadora questionou o professor César Moreira sobre o contexto atual da educação e em  termos de autonomia de estudo, ao que o mesmo respondeu: “O desafio é tentar focar no saber estudar

porque nunca em momento algum da História houve tanto acesso a tanta informação e o problema agora é  escolher a fonte segura, o chamado fact-checking, saber em quem ou quê confiar e como confiar.  Facilmente, acedemos ao telemóvel, vemos uma panóplia de informação e «agora, o que vou escolher,  como vou fazer isto?» Eu sinto-me assoberbado, principalmente, desde que surgiu a inteligência artificial.”  O convidado tem, então, investido em formação e alertou para as cautelas a ter com a IA. 

“AS ESCOLHAS SÃO MESMO IMPORTANTES”  

Carina Antunes frequentou o curso de Marqueting e Gestão durante algum tempo, mas foi em  Estética Canina que se especializou. À pergunta de se voltando atrás, estudaria na Universidade na mesma,  respondeu: “Foi super importante para o meu percurso estar na Faculdade, há portas, é uma realidade  completamente diferente, adquirimos conhecimentos noutras áreas e eu também gosto muito de  Marqueting. Se calhar, iria para Psicologia e temos a área de Psicologia Canina, não é uma área com que  me identifique muito, mas na parte comportamental dos cães, sim.” A atualização na sua especialidade é  constante: “Ainda no fim de semana passado tive uma formação em Lisboa.” 

“EXPERIÊNCIA MUITO VALIOSA” 

Em conclusão, a psicóloga Catarina Amador referiu, dirigindo-se às turmas, que o evento se tinha  revelado uma “experiência muito valiosa”, aqueles testemunhos tinham vindo realçar “a importância da  resiliência, de aumentar o nível de estudo”, um conselho que é dado frequentemente aos alunos. “Quando  a média não está assim tão boa, continuem a lutar. Não podem depender dos outros para fazer as vossas  coisas. A partir do Secundário vai sempre um grande desafio.”

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